Professora, sim; tia, não

adaptado do livro de Paulo Freire

A tarefa de ensinar é uma tarefa profissional que exige amorosidade, criatividade e competência científica.
O enunciado professora, sim; tia, não, não opõe a professora à tia, mas também não as identifica ou reduz a professora à condição de tia. A professora pode ter sobrinhos e por isso é tia, da mesma forma que qualquer tia pode ensinar, ser professora e trabalhar com alunos. Isto não significa, porém, que a tarefa de ensinar transforme a professora em tia de seus alunos da mesma forma como uma tia qualquer não se converte em professora de seus sobrinhos só por ser tia deles. Ensinar é profissão que envolve certa tarefa, certa especificidade no seu cumprimento enquanto ser tia é viver uma relação de parentesco. Ser professora implica assumir uma profissão enquanto não se é tia por profissão. Se pode ser tio ou tia geograficamente ou afetivamente distante dos sobrinhos mas não se pode ser autenticamente professora “longe” dos alunos.
Recusar a identificação da figura da professora com a da tia não significa, de modo algum, diminuir ou menosprezar a figura da tia, da mesma forma como aceitar a identificação não traduz nenhuma valoração à tia. Significa, pelo contrário, retirar algo fundamental à professora: sua responsabilidade profissional de que faz parte a exigência por sua formação permanente.
A recusa tem como finalidade evitar uma compreensão distorcida da tarefa profissional da professora. Professora é professora. Tia é tia. É possível ser tia sem amar os sobrinhos, sem gostar sequer de ser tia, mas não é possível ser professora sem amar os alunos e sem gostar do que faz.

Texto elaborado a partir do capítulo 1 do livro Professora sim, tia não, de Paulo Freire.