Infelizmente, a lista de atitudes desse tipo poderia ocupar o espaço todo da coluna. Depois dizem que nossas crianças e nossos jovens carecem de limites. Pois sim! Todos os exemplos citados envolvem adultos, apenas eles. E, claro, como são os adultos que educam, ou não, os filhos, é esse tipo de futuro adulto que estamos deixando para este mundo. Por que temos filhos? Por muitos motivos, mas, em especial, para que o mundo continue e permaneça. E depende da educação que damos aos filhos a forma como este mundo vai continuar.
E, então, você já se perguntou como está educando o seu filho?
Você está preparado seu filho para ser um vencedor, para ser esperto, para saber competir e ganhar, ou para ser uma pessoa solidária, cooperativa, que sabe respeitar os outros e as regras de convivência coletiva?
Não, não estou me referindo a etiquetas, e é bom fazer logo essa distinção. Uso um exemplo: uma criança de menos de 6 anos vai a uma festa de aniversário, acompanhada pela mãe. Lá são servidas várias guloseimas à criançada, e uma mesa com o bolo e toda enfeitada com doces, entre eles o brigadeiro – ah, o delicioso brigadeiro, tentação quase irresistível – , permanece posta no centro do espaço. O usual é que só depois do tradicional parabéns ao aniversariante e o corte do bolo é que a mesa pode ser devidamente atacada. Todos os adultos presentes sabem disso, lógico.
Mas, às crianças, o que fica mesmo é a imensa vontade de comer brigadeiro, todo vistoso e exibido lá na mesa. Pois bem, nessa festa eles se serviram do brigadeiro antes da hora. A mãe a que me refiro manteve-se firme em sua postura e não permitiu que o filho fizesse o mesmo. Resultado? Depois de o “parabéns” cantado, o filho caiu no choro por não ter-lhe sobrado um único brigadeiro. E foi aí que surgiu a dúvida para essa mãe: quando viu o sofrimento e a frustração do filho.
Deveria ela ter permitido que o filho seguisse os demais? Não, claro que não, se o que ela pretende é preparar o filho para que ele seja um adulto educado. Educado, e não apenas com bons modos, e não apenas que sabe obedecer as etiquetas do convívio social.
Sabe esperar, conter uma vontade e, no caso dessa criança, arcar com a frustração de não saborear o brigadeiro é um custo, sem dúvida. Mas esse custo, esse sofrimento, tem um objetivo claro: permitir que o filho consiga ver além de si mesmo, de suas vontades imperiosas, de suas atitudes individuais e aprenda, cada dia um pouco, a se comportar como um ser que vive com outros.
Quando você sofrer novamente uma situação qualquer de desrespeito à vida em grupo, pense em seu filho, lembre-se do futuro e de como isso depende da educação que você lhe dá. Ensinar seu filho a ser esperto, a tirar vantagens individuais da vida, pode ter um custo muito mais alto do que, no presente, isso pode parecer.