Ficou sem brigadeiro, mas ganhou educação

Por Rosely Sayão
 
Quem não se incomoda quando está em uma fila e observa alguém, na maior falta de cerimônia, passar à frente fingindo que não percebe que muitas outras pessoas esperam por sua vez? Quem não se irrita quando anda pelas ruas e precisa, durante todo o tempo, desviar das pessoas que não enxergam nada, a não ser o próprio caminho? Quem não se sente enfurecido quando, ao atravessar uma rua na faixa de pedestre, precisa correr para não ser atropelado por um motorista que faz uma conversão proibida? Quem não se exaspera quando é empurrado em um local público, quando vê alguém sujar esse espaço com lixo individual?
Infelizmente, a lista de atitudes desse tipo poderia ocupar o espaço todo da coluna. Depois dizem que nossas crianças e nossos jovens carecem de limites. Pois sim! Todos os exemplos citados envolvem adultos, apenas eles. E, claro, como são os adultos que educam, ou não, os filhos, é esse tipo de futuro adulto que estamos deixando para este mundo. Por que temos filhos? Por muitos motivos, mas, em especial, para que o mundo continue e permaneça. E depende da educação que damos aos filhos a forma como este mundo vai continuar.
E, então, você já se perguntou como está educando o seu filho?

Você está preparado seu filho para ser um vencedor, para ser esperto, para saber competir e ganhar, ou para ser uma pessoa solidária, cooperativa, que sabe respeitar os outros e as regras de convivência coletiva?

Não, não estou me referindo a etiquetas, e é bom fazer logo essa distinção. Uso um exemplo: uma criança de menos de 6 anos vai a uma festa de aniversário, acompanhada pela mãe. Lá são servidas várias guloseimas à criançada, e uma mesa com o bolo e toda enfeitada com doces, entre eles o brigadeiro – ah, o delicioso brigadeiro, tentação quase irresistível – , permanece posta no centro do espaço. O usual é que só depois do tradicional parabéns ao aniversariante e o corte do bolo é que a mesa pode ser devidamente atacada. Todos os adultos presentes sabem disso, lógico.

Mas, às crianças, o que fica mesmo é a imensa vontade de comer brigadeiro, todo vistoso e exibido lá na mesa. Pois bem, nessa festa eles se serviram do brigadeiro antes da hora. A mãe a que me refiro manteve-se firme em sua postura e não permitiu que o filho fizesse o mesmo. Resultado? Depois de o “parabéns” cantado, o filho caiu no choro por não ter-lhe sobrado um único brigadeiro. E foi aí que surgiu a dúvida para essa mãe: quando viu o sofrimento e a frustração do filho.

Deveria ela ter permitido que o filho seguisse os demais? Não, claro que não, se o que ela pretende é preparar o filho para que ele seja um adulto educado. Educado, e não apenas com bons modos, e não apenas que sabe obedecer as etiquetas do convívio social.

Sabe esperar, conter uma vontade e, no caso dessa criança, arcar com a frustração de não saborear o brigadeiro é um custo, sem dúvida. Mas esse custo, esse sofrimento, tem um objetivo claro: permitir que o filho consiga ver além de si mesmo, de suas vontades imperiosas, de suas atitudes individuais e aprenda, cada dia um pouco, a se comportar como um ser que vive com outros.

Quando você sofrer novamente uma situação qualquer de desrespeito à vida em grupo, pense em seu filho, lembre-se do futuro e de como isso depende da educação que você lhe dá. Ensinar seu filho a ser esperto, a tirar vantagens individuais da vida, pode ter um custo muito mais alto do que, no presente, isso pode parecer.

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